Procuro nas palavras encontrar uma resposta
Algo que mostre um caminho;
Algo entender o turbilhão confuso e contraditório
De sentimentos e emoções que rondam caóticos meu espirito.
São formas indefinidas que se transmudam sem parar multicoloridas;
São insipidas, são perfumadas e viajam numa velocidade indescritivel,
Arrastando as sensações guardadas no espelho transparente da alma
Lembranças, sonhos, devaneios.
Como o fogo que consome o ser que lhe dá causa.
Continuar....
"... o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos,na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade..."
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Aves da Noite, de Edward Hopper
A melhor pintura conhecida de Hopper, Aves da noite (pintura) (1942), mostra clientes sentados em um balcão de um restaurante. O severo jogo de luz do restaurante mostra a noite pacífica do lado de fora. Os clientes, sentados nos tamboretes ao redor do balcão, aparecem isolados, ou até mesmo detestáveis. Fonte: Wikipedia |
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
SER OU NÃO SER, NEM SEMPRE A QUESTÃO
É impressionante o efeito placebo que eufemismos terminológicos e anglicismos modistas imprimem em nossos espíritos incautos.
Dia desses encontrei um amigo que há algum tempo não via e ele me contou orgulhoso que havia sido convidado para ser Diretor de TI de uma empresa. Fiquei muito feliz. Mas ao longo da conversa, fui percebendo constrangido que alem do meu amigo, havia na tal empresa apenas o Presidente, que também era Diretor Executivo e Financeiro e um office boy, por acaso, irmão do meu amigo.
Me contive.
Encerramos a conversa e fui pra casa intrigado ao perceber que no quadro geral da empresa, alem de Diretor, meu amigo também era o Técnico de TI e, sabe-se la, talvez, o estagiário de TI.
Mas isso pouco importa. Nesses dias em que vendedores tornaram-se “consultores”, mendigos, “moradores de rua”, negros, “afro-descendentes”, professores, “personals”, babas, baby sitters e ate os que já eram vips se “repaginaram” para ressurgirem “hypes”, vê-lo Diretor de TI e partilhar um pouco da alegria do seu upgrade na carreira fez com que eu me sentisse really cool.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
UM DIA DESSES...
As vezes preencher o tempo ocioso é um exercício desgastante de reflexões pessoais. Entre um nada e outro, fico pensando e repensando a vida, tentando encontrar em alguma das linhas e entrelinhas da minha história alguma coisa que faça eu me sentir melhor.
Normalmente, começo percorrendo minha infância e adolescência, tentando reavivar as cores dos sonhos que tive nesses momentos, mas quando descortino a maioria dessas lembranças, não encontro lugar no meu dia a dia que me permita tornar realidade qualquer desses planos. É estranho e confuso, como à luz do dia, quando a vida segue o seu curso, construindo a cada instante e a um só tempo toda a história desse mundo e de todos nós, tudo aquilo que no contexto da nossa existência individual parecia tão especial e grandioso no silencio da noite precedente, parece frágil e sem importância.
Como acreditar que entre bilhões de pessoas e infinitas histórias sofridas e grandiosas, meus sonhos pudessem vir a luz e transformarem esse mundo pela minha perspectiva? À luz do dia tudo é relativizado e perde o seu valor quando se caminha em direção a qualquer extremo. Tudo parece tão fulgaz e efêmero que a alternativa mais plausível, parece sempre ser a mais rápida e palpável. Nesse contexto, eu me abandono, me traio e acabo agustiado procurando atender a todos os meus anseios sem saber a qual deles dar prioridade. Volto pra casa ao final do dia perplexo e absorto nesse emaranhado confuso de idas e vindas do meu espírito desnorteado, me perco no contexto dos muitos personagens que vivo em meus devaneios e muitas vezes, sem saber a qual deles acudir, sigo sem saber quem sou.
É como diz Machado de Assis pela consciência imortal do seu Dom Casmurro: “ao tentar reatar os fios órfãos que despontam do tecido em que se desnovela a historia da minha vida, muitas vezes falta a mim mesmo”.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
A MUDANÇA
Na sexta estava de ressaca e dormi praticamente o dia inteiro. No sábado ainda me sentia um pouco mal, mas fui pra casa da minha mãe, dormi cedo e acordei de madrugada pensando, mais uma vez, sobre mudar um pouco minha vida: parar de fumar, esse foi objetivo que encontrei no final da minha insônia.
Pela manhã, senti uma certa excitação com a expectativa do transcorrer do dia. Indo para o serviço, pensava numa colega de trabalho com que eu costumava dividir uns tragos. Me lembrei que ela era muito segura quanto ao nosso vício e fumava sem culpa. Talvez eu também pudesse fazer isso, se não conseguisse parar, pensei com ironia.
No meio da tarde, ouvindo umas músicas, me lembrei de um amigo da minha adolescência, com quem dividi os primeiros cigarros, as primeiras confidências e algumas das descobertas proibidas dessa época da vida. Pensando nas nossas nas conversas, nos porres e na nossa convivência, senti uma profunda nostalgia desse tempo onde fumar, beber, pensar em mulheres e sonhar, sobretudo sonhar, era o que fazíamos pra preencher nossos dias. Sem culpas, despreocupados. Só fumando, projetando na fumaça dispersa pelo ar, nossos mais verdadeiros e apaixonados sonhos. Senti meus olhos marejados, minha boca ressecando e uma vontade imensa de sentir no gosto doce e amargo de uma tragada a sensação de reviver aqueles dias tão importantes da minha vida.
Em Brasília, as condições climáticas é que ditam a intensidade da violência a que submeteremos nossos nervos no trânsito. Por esses dias, sempre tem chovido no final da tarde e como moro há cerca de trinta quilômetros do meu trabalho, levo em média uma hora e meia pra percorrer o caminho por onde expio os meus pecados diariamente.
Sem um pouco de nicotina pra me acalmar, tudo ficou bem pior: cada sinal fechado, cada retenção ou parada que eu fazia, parecia desencadear uma onda desordenada de ódio, rancor e amargura em meu espírito abstinente: culpei a vida, por ser assim, lutei contra todos os muinhos de vento que encontrei pelo caminho e quando avistei o ultimo semáforo antes de chegar na rua onde moro, esqueci de tudo. Para exultar em graça, me bastaria apenas acender um cigarro, nada mais. Resisti, ainda.
Um ponto difícil de se enfrentar quando se tenta deixar de fumar, é o vazio que se estabelece pela simples ausência de um cigarro entre os dedos. Um dia pode-se ler um livro, noutro ver um filme, fazer compras, inventar passeios, visitar amigos, mas tudo isso alivia apenas momentaneamente o mal estar, e buraco onde eu encontrava refúgio, reinventava meus problemas de sempre e alimentava meus monstros emocionais permanece ali, apenas esperando minha volta inevitável.
Meu corpo, ao contrário, me agradecia a cada instante. Poucos dias longe de bebidas e cigarro fazem um grande bem e isso ja havia experimentado das outras vezes. Mas de repente, em um segundo, tudo isso é esquecido e parece sem importância. Vem o primeiro trago e aos poucos a gente vai se deixando levar pr'aquelas experiências surreais, efêmeras e profundas de sonhos, euforias, cóleras, tristezas e desilusões, como a vida pintada em cores vivas numa lousa mágica de criança, que se apaga quando o desenho fica pronto.
A noite decidi visitar um amigo que me ligou e nos convidou pra irmos pro apartamento dele tomar um caldo e beber um pouco. Fiquei um pouco ansioso com isso, não sabia o que eu iria fazer, não sabia se iria conseguir ir até lá, ouvir músicas, conversar descontraidamente as mesmas coisas de sempre sem acender um cigarro.
Depois de uma chuva inconveniente e mais alguns aborrecimentos no trânsito, enfim chegamos ao apartamento do meu amigo Zelber. Ele nos abriu a porta e eu encontrei, logo que avistei o interior do apartamento, todos os meus anjos e demônios desses últimos dias, ali, sentados no sofá da sala.
Conversamos um pouco, enquanto o ele nos explicava um pouco embaraçado que a Aline, sua mulher, iria se atrasar porque estava presa no trânsito.
Não demorou muito, a ela chegou e num piscar de olhos a maioria dos ingredientes da receita já tomava conta da cozinha, enquanto ela e a Mônica, minha mulher, iam tricotando as primeiras conversas da noite. O Zelber abriu uma cerveja, mas como de costume, ainda não estava bem gelada, mas, pelo menos, me serviu de desculpa pra ganhar tempo e adiar um pouco meu confronto iminente. Fiz a piada de sempre com a cerveja quente do meu amigo e decidimos descer pra beber no bar da esquina enquanto as meninas seguiam com seus ingredientes, temperos, agulhas e linhas.
Não demorou muito, a ela chegou e num piscar de olhos a maioria dos ingredientes da receita já tomava conta da cozinha, enquanto ela e a Mônica, minha mulher, iam tricotando as primeiras conversas da noite. O Zelber abriu uma cerveja, mas como de costume, ainda não estava bem gelada, mas, pelo menos, me serviu de desculpa pra ganhar tempo e adiar um pouco meu confronto iminente. Fiz a piada de sempre com a cerveja quente do meu amigo e decidimos descer pra beber no bar da esquina enquanto as meninas seguiam com seus ingredientes, temperos, agulhas e linhas.
Chegamos ao bar da esquina e enquanto eu encolhia meus dedos na sandália, contei três dos oito clientes que haviam na casa, fumando, alem de um outro de camisa vermelha que acendia um Derby com dono e pedia um traçado. Abrimos a primeira cerveja. O gosto estava mais adocicado que de costume e apesar de ser da mesma marca que sempre bebemos, o sabor me pareceu menos encorpado. Quando bebemos a primeira garrafa, eu mal podia acreditar que ainda não havia acendido um cigarro. Tentei relaxar um pouco, bebemos mais uma garrafa e eu não fumei. Decidimos voltar pro apartamento.
Tomamos ainda umas duas long neck antes do caldo ser servido, e eu passava por aquela situação me sentido como um criança andando de bicicleta pela primeira vez sem o apoio das rodas laterais. Depois que comemos, a Monica quis descansar um pouco e eu relaxei, o Zelber trouxe a cerveja que eu havia imaginado a noite toda e eu instintivamente acabei acendendo um cigarro na varanda.
A noite estava fria e nublada. A varanda do apartamento tem uma vista complexa da cidade, de onde se enxerga um letreiro luminoso, os holofortes de um estádio em dias de jogo e uma infinidade de luzes, prédios e telhados que inexplicavelmente nos causam uma sensação boa de tranqüilidade e aconchego.
Acendi o cigarro com calma, apesar da confusão mental que me ocorria naqueles segundos decisivos. Deixei que chama do isqueiro se acomodasse no ar, depois fui a aproximando da ponta do cigarro e deixei que o acendesse completamente, enquanto dava uma longa e decisiva tragada no filtro do outro lado. Senti com curiosidade o gosto da fumaça que tanto conheço, mas num lampejo dos tantos pensamentos que se sobrepunham no meu espírito, não me reconheci naquele gesto que tanto havia feito. Tentei ainda uma segunda tragada, mas desisti, apaguei o cigarro.
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